sexta-feira, 10 de julho de 2015

vermelhas

me disseram que a ruína era o caminho para a transformação
eu cuspi no chão
e vi em mim mesma o peso
e a dor do peso de sentir tanta dor.
porque já também me disseram que é fácil ser filosófico quando quem sofre é o outro
e isso é verdade
mas o difícil, o difícil mesmo,
é pegar a própria feiura que nos auto envenena o coração
e tirar dela um buquê de flores cheirosas e coloridas
como as rosas que você nunca me deu.
é engraçada a forma como você debocha e não compreende
que apesar de ser muito jovem e muito ingênua
eu sou capaz e sofro a dor da negação
sofro o pesar e a morte daquilo que poderíamos ter sido e que seria tão tão bonito
como passarinhos voando ao som de caetano, à luz do pôr do sol primaveril.
me disseram que o segredo era confiar no poder do tempo
pois ele é o rei dos poetas não-amados e das efemeridades do coração
e que eu deveria apagar todas as fotos
seu número
as mensagens
as músicas
tudinho
pra não cair na tentação de sair correndo atrás de você, seminua,
num dia frio de chuva, como num filme de almodóvar
e te beijar a boca com um desejo tão reprimido que me dominaria antes mesmo de eu trocar de roupa
e ah, não nego, de te arrancar tudo o que te cobrisse
só pra poder sentir melhor o calor dos seus braços e o perfume dos seus pelos e a textura dos seus cabelos castanhos...

pois eu consegui, eu apaguei tudo o que havia de você nos objetos que me servem
foto por foto
lágrima por lágrima
mas há um lugar que não consigo alcançar: a minha mente
tão burra
que guarda todas aquelas memórias
que meu coração masoquista insiste em lembrar e relembrar tantas tantas vezes
me ferindo tanto
me deixando com tantas saudades
e com tanta mágoa...
e com tanta RAIVA...
e com tanta vontade de te socar o peito morno e puxar seus cabelos que amo e arranhar suas costas largas e bater na sua face tão bonita e morder os seus lábios macios até eles sangrarem a dor que sinto
e que é da cor das rosas cheirosas e coloridas
que você nunca me deu.
e no final...
quando eu finalmente percebo...
estou de novo embriagada com o sal das minhas lágrimas
sozinha,
cansada,
patética,
pensando em você...




Um comentário:

  1. Através de suas sempre simples mas lindas palavras, identifico como somos diferentes e semelhantes.
    O engraçado é como o mais singelo sopro do amor nos toca com uma sutileza particular.
    E o que te torna especial, e visivelmente segura sobre seus sentimentos, é como você se despe, ausente de vergonha, sobre cada aspecto de como esse toque a transformou.
    Através de uma antítese de melancolia e beleza, razão e emoção, você traz lembranças à tona, umas maravilhosas, outras nem tanto, até mesmo aquelas que não me recordava possuir, mas que me transformaram no que sou.
    Nunca deixe de aprazer-me e deixar-me um passo mais próximo das emoções que, por escolha, enterro dentro de mim.
    Obrigado!

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