terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um texto que foi-me

Ah, será que estou tornando-me prolixa, repetitiva e desinteressante ao entregar-me de mão beijada à esses monólogos voluptuosos? Desculpe se você que me lê não muito aguenta-me mais, peço desculpas verdadeiras com o coração aberto e sincero, mas é que não aguento com essa vida! Sinto tanta vontade de gritar o que vejo nesse mundo pequeno, e o que sinto também!... Tô tão grávida desse desejo iminente... Que simplesmente não caibo em mim! No fim do dia, já nem sei o quanto de mim eu ainda sou, de tanto que transbordei, escorri e me recompus! Daqui a pouco, ou deleitarei à loucura ou pedirei, por favor, à cada pessoa que abriga a face dessa terra que ouça-me um pouquinho, por quinze ou mil segundos - não peço muito, nunca fui mendigar aquilo que não estão dispostos a ceder-me (nesse caso, os ouvidos)! Agora peço desculpas novamente, não por repetir, mas por talvez soar grossa ao dizer que não devo desculpas à ninguém (isso inclui você, adorado leitor), já que escrevo porque sinto a necessidade e o prazer e a recompensa de uma forma que só quem ama as palavras é capaz de compreender, e não para servir de passatempo ou de um enigma chamativo para quem cede atenção à leitura (apesar dessas opções também me trazerem algum contentamento). Ou seja, ainda que eu venere em demasia a ideia de espalhar um pouco de meus ideais através desses textos que publico, no primeiro elemento motor da minha ação (e imito um pouco de Platão e Aristóteles ao utilizar essas palavras) há uma dose de egoísmo e de vaidade! Agora desconcerto-me ao vomitar essa ideia, pois sempre achei que o que me movesse fosse aquela vontade de gritar pro mundo o que vejo e sinto! Mas faz parte desse texto, bem como da minha poetisa interna, não concluir nada, afinal, são sempre as incertezas que nos impulsionam a pensar e a buscar além.
Bem, de todas as formas, ainda devo guardar um pouco da sanidade dentro de mim, pois ando agindo de uma forma muito lógica: dando a mínima para os pensamentos alheios! Irracional mesmo seria se eu me importasse e se me restringisse a x coisas em função de qualquer outra que não fosse meu bom senso, não é? Mas ontem e hoje eu chorei no ônibus e sorri na frente de várias pessoas desconhecidas porque, como vem sendo de praxe, senti uma felicidade muito grande e uma gratidão imensa também, por estar viva e por ter tanta vida dentro de mim. Essas sensação prazerosas me dominaram, invadiram minha alminha e esbugalharam um pouco os meus olhos, fazendo transbordar, da única forma ali possível, um líquido que é tão bonito! Por isso sinto-me ainda capaz de auxiliar! O que é uma grande mentira, pois uso a lógica para que os outros me deixem ajudar, apenas, mas no fundo guardo a certeza de que por "insanidade" ter tantas interpretações, se eu escolher a melhor delas como definição da palavra, então entenderei que a ajuda mais verdadeira e benéfica vem de pessoas socialmente desajustadas e malucas mas interiormente completas!
Ainda assim, o texto não deveria girar sobre mim! Deveria focar na sociedade, nos valores deturpados que sempre dominaram a maior parte dos seres humanos, da forma como temos vivido ao pé da letra, nascendo, respirando, transando e morrendo! (Agora sinto-me quase uma meretriz por ter usado a palavra "transando" tão desbocadamente! Mas que se dane!). O viver perdeu seu esplendor, a arte deixou de habitar todos os corações, a paz não é mais priorizada! E convenhamos, se um coração sem arte é um coração incompleto e a paz, uma sensação que depende apenas das nossas cabeças, como alguém com meio coração e com um cérebro tão fraco de alegria é capaz de existir? O texto deveria girar em torno dessas meias existências, e caberia à mim ajudá-las a se tornarem inteiras, através de palavras, e, principalmente, de intenção! Eu deveria docemente sussurrar no ouvido das pessoas, com uma súplica contida, pedidos do tipo "por favor, olhe para o céu, sinta a sorte da sua vida em cada pedaço desse azul que é tão único", ou "veja suas unhas, sua pele, sinta seu corpo como um meio e uma ferramenta para proliferar o bem, apenas o bem, e aja bondosamente hoje, amanhã e sempre". Ou que apenas perguntasse "já reparou nas folhas das árvores hoje?" ou "já pensou no quão maravilhosa a vida é enquanto bebe um copo de água, e vê ali na água a ventura do ato de beber?".
"Eu deveria, deveria" e bla bla bla, também estou cheias dessas palavras chaves que explicitam a ideia contida no ato, mas que permitem à esse mesmo ato continuar inerte, sem suceder-se. A partir de agora, vamos agir, agir mesmo? Acabo de lembrar que esse texto também deveria ter mencionado o fato de que a gente não faz o que tá com vontade na hora que quer, nós não nos permitimos espontâneos, ainda nos controlamos como se fôssemos obrigados a participar do senso comum e a concordar com os protótipos determinados pela sociedade e inseridos por meios que não nos satisfazem. Let's go, libertemo-nos! Eu mesma já tô doidinha diante da perspectiva de ser eu. Mas, aliais, acho que eu fui eu o texto inteiro, e que tanto quanto fui-me o texto foi-me também...

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