domingo, 23 de fevereiro de 2014

Deus em nós

O ser humano é um bicho muito estranho. E quando me perguntam se eu acredito eu Deus, eu respondo que há muito deixou de ser questão de acreditar e passou a estar no âmbito do sentir.
Eu acredito em Deus porque o sinto em todas as coisas. Por exemplo: pra mim, a natureza, a harmonia entre os seres e a perfeição do mundo em si não é apenas uma relação biológica ou científica. Há algo maior, um tênue véu que tudo cobre e por tudo preza, e que guarnece a energia mais pura e bela que existe: a da simplicidade, a da humildade, a das coisas como são. É incrível como a natureza não pede nada à ninguém; em sua majestosa existência, ela é simples, calma, afável; não se sobrepõe ao restante, mas admite que todos possuem um papel de equivalente importância. Todos pertencem à ela, são filhos dela, todos a são. Mesmo o cimento cinzo e gélido que cobre o chão não é puramente cimento, é matéria prima modificada. E o chão, nunca foi chão, é o nosso solo. E isso é lindo.
Eu também acredito em Deus pelo simples fato de que sinto, assim, de uma forma geral. Guardo sentimentos inexoráveis, imensuráveis, incabíveis em mim; eles são intensos, são bonitos (alguns também são feios), são sensações sagradas, divinas. Eles fazem meus olhos chorarem, meus pelos se arrepiarem, meu coração bater descompassado. E ainda que haja uma explicação pras reações químicas do corpo, pra sudorese, pra aceleração cardíaca, e que muitos tentem explicar o amor (dizem que o cheiro de outro ser humano nos atrai de alguma forma especial, e há aquelas teorias todas baseadas nos animais de outras espécies, e mesmo nos nossos descendentes, a respeito do macho mais atraente ser o mais forte, ou sobre a fêmea mais atraente ser a melhor parteira, a que cuidaria melhor dos filhos etc). Ainda que a ciência e a racionalidade tentem explicar e comprovar o que existe (e até mesmo o que não existe) no mundo, ninguém jamais irá descrever ou desvendar os sentimentos em si.
Então repito que os seres humanos são muito esquisitos (mas esquisitos de forma fascinante e esplendorosa) porque eles são capazes de expressar esses sentimentos através da arte. Eles dominam a arte de ser e de fazer arte. Não digo todos, porque generalizações são terríveis, mas muitos não tentam explicar o amor, eles simplesmente, através de uma dança, ou de um beijo, ou de uma música, ou de um silêncio, explanam com exatidão a beleza que cerca esse sentimento, e fazem isso sem descrevê-lo. Sem descrevê-lo, eles fazem quem os assiste sorrir e chorar e sentir as mesmas coisas que o personagem naquele momento (e quando digo personagem, quero fazer entender que ele pode ser real ou fictício, pode estar dentro da tela no cinema ou na rua, ao seu lado). Através das palavras escritas, faladas ou cantadas, dos gestos calculados ou não, da harmonia entre os instrumentos e do som que deles sai, através disso tudo, o homem, a mulher, o ser humano, mesmo com tantos defeitos eloquentes, são capazes de me mostrar que Deus existe.
E isso é lindo.

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