quinta-feira, 11 de julho de 2013

Feito anjos

Chovia e você me pedia a mão pra dançar, com um olhar sorridente, os dentes me beijando os olhos. Eu chorava porque rodopiávamos, porque aquilo era real. Eu chorava pela certeza de que a vida me presentava com você.
Conhecer-te era quase um milagre.
Sentir seu cheiro de perto, aconchegar-me em seu peito, beijar seus pelos da face, um por um, até que todos tivessem um pedaço de mim... E te pedir pra não fazer a barba, porque são tão aprazíveis as sensações que o seu roçar provoca em meu corpo já entregue.

Na nossa dança, não havia música. O barulho era do seu riso, de saliva, do suspiro. Muito nos beijávamos, mas não era um beijo fervoroso. Era morno, delicado - era de amor. E a Lua lá de cima nos espiava e sorria porque sabia que o mundo não estava perdido e que a vida ainda podia ser recheada de boniteza; ela sorria e chorava porque nos invejava, mas sem nos querer mal. E a gente, que não sabia dançar, sussurrava doces melodias enquanto a chuva caía lá fora...
Éramos como cegos e estávamos embriagados.
Depois, falávamos sobre a luz e sobre as flores; você me explicava as teorias da ciência e eu dizia que te amava cada segundo mais e mais, num fluxo interminável de palavras que nunca expressavam com exatidão o que eu sentia. Éramos malucos e qualquer um nos internaria no hospício. Se longe um do outro, voltava tudo a ser cinza. Quando perto, um arco-íris pulsante.
E a chuva não parava e nós ríamos porque pra gente tanto fazia. Quis me molhar e você não deixou; me agarrou e num abraço apertado me fez cócegas. Te empurrei pra longe e saí correndo como se tivesse dez anos, porque ao teu lado eu me libertava por completo e me metamorfoseava num pássaro. Ia voando pra longe, acreditando em minha própria esperteza sã, mas quando reparava, você estava voando ao meu lado, com sua arrogância fingida e seu sorriso infantil. E rodopiávamos no céu, nos molhando com a água sagrada, abençoando o nosso amor que era tão vivo e tão leve.
Então voltávamos a nos sentar e nos abraçávamos porque o Frio nos queria tão perto, como se fôssemos um só. Eu pegava minha seda e te tragava na natureza pra dentro de mim, e trazíamos um ao outro pra mais perto cada vez mais. Éramos insanos armados com o maior poder do mundo - o amor - e tínhamos toda a paz em nossos corações. Enquanto eu estava em seus braços, o mundo podia ruir.
Depois a gente ficava com fome, ia pra casa fazer um sanduíche, falava com comida na boca e deixava a cozinha bagunçada. Nem queríamos saber. Só escovávamos os dentes com a mesma escova e apostávamos corrida pra cama - mas não íamos pra cama. Você montava uma rede no lado de fora da casa e a gente se enrolava num casulo improvisado. E meu corpo grudado no seu era o seu corpo grudado no meu, e o meu lábio que te provava era o seu me achando tão doce. Os meus cabelos se perdiam na imensidão daquele aperto enquanto você me achava linda, tão bagunçada, tão natural. Então ficávamos nos amando até o Sol começar a surgir, e assistíamos ao seu nascer com os sexos pulsando o desejo da carne. Éramos o equilíbrio perfeito da mente, da alma e do corpo. Assim, dormíamos feito anjos, e não os deixávamos de ser...

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