segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Amor e lábio mordido (escrito em crise e não-revisado)

Incrível o quão superficial e desengonçado se torna um movimento involuntário quando reparamos nele, o quão incômodo passa a ser um fato após seu descobrimento. Dia desses percebi que mordo o lábio inferior quando ando na rua e tão logo deixei de saber como relaxar meus lábios de forma natural. Agora preciso me distrair muito ouvindo música ou filosofando sobre cores e pombos para que possa esquecê-lo, ainda que, certo tempo depois, entre um devaneio e outro, eu perceba-o mordido novamente. Quando vou dormir e fico dançando a valsa da insônia que me assombra vez ou outra, imagino, encantada e surpresa, que (veja só!) assim que eu abrir os olhos, será outro dia, e subitamente recebo os sinais da minha mente ansiosa, gritando em sua voz passiva e baixinha: parabéns, bobona; agora mesmo é que você não vai dormir. Bem, eu também desmascarei outra coisa (e esta vem-me fazendo companhia há tempo indeterminado): estou absoluta e graciosamente apaixonada. Meu coração e minha alma estão extasiados, maravilhados com esse sentimento que os estorvou e devorou, percebi. Continuo sendo a mesma de sempre, e a posse do meu corpo, bem como de minha sanidade, é apenas minha (como sempre será), mas agora há algo diferente... Há algo na forma como o sol anda nascendo, como as nuvens andam desenhando o céu, como meu âmago tem ficado apertado, incomodado, como se a minha solidão, que sempre me pareceu tão deliciosa, não fosse mais suficiente. Há algo quando meus sorrisos querem ser elogiados, como as pontas dos meus dedos demostram desejar ser beijadas, quando um filme romântico deve ser o retrato refletido de parte da minha realidade.
Eu acho que é um menino. Um menino sensível e bobo, gracejador do seu modo, um pseudo cavalheiro medieval desengonçado demais para fazer-me a corte. E eu, que eu vejo nos olhos dele uma faísca de alegria, que gostaria de ser essa faísca dos olhos dele e que sempre fui tão contida, agora almejo expandir-me e dominar o seu olhar até que seja só felicidade e essa felicidade tenha o meu nome. Eu, que tenho-lhe como um último romântico, lhe peço mentalmente e meio sem querer, sem maiores exigências ou pretensões, que seja meu.
Bem, eu sabia que isso iria dominar a minha escrita mais cedo ou mais tarde, e que o tema de um de meus monólogos pessoais seria essa semente de amor que eu tão docemente vejo crescer. Sinto-me uma adolescente de quinze anos - por mais que, de fato, eu o seja - e agora, de repente, meu coração tá todo apertado de novo e tô até com uma vontade de chorar, talvez porque ele não esteja aqui, talvez porque eu saiba que ele nunca vai estar. É que sou chata demais, complicada demais, sou intensa, sou o demais mesmo, o excesso. Eu pingo minha personalidade e transbordo por não caber em mim, porque esse corpo que me foi dado é pequeno demais para alma tão espaçosa (talvez Deus devesse ter-me feito uma baleira jubarte, ou mesmo uma estrela de outra galáxia). Mas eu só tenho 1,54cm de altura e não peso tanto...
Ah!, há algo nessa lua que ilumina o céu e a terra, há algo em sua forma solitária de padecer no eterno... Ela é linda, tão graciosa e tão elegante, e parece ser tão inteligente, apreciar bons livros, calcular dízimas de cabeça como meu professor de física. Mas ela é também tão sozinha, tão melancólica em seu sofrer calado, tão conformada em sua resguardo guarnecido que me dá vontade de chorar.
Sim, eu sou uma escritora enamorada possivelmente destinada a encher de letras os buracos que meu amado não é capaz de preencher. E eu viveria conformada, metamorfoseada numa lua (claro, sem todo o seu esplendor que é só seu, mas ainda sim uma lua), se não houvesse um só problema que me apertasse o íntimo mais do que todos, e que eu revelo num sussurro calado depois de tanto estrondo: eu não sei quem esse menino é. Eu não o conheço, eu talvez nunca tenha visto-o, também nunca senti seu perfume, nunca provei de seu beijo, nunca aveludei-me com o menor contato. Mas, ainda assim, eu o desejo, e o desejo na esperança de um dia livrar-me dessa sensação angustiante que, agora descoberta, não pode ser esquecida, como meu sono iminente, como meu lábio mordido.

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