É, eu sou esse tipo de. Esse tipo de, sem complemento, porque por mais que eu tente especificar, não sei do que estou falando. Sou esse tipo de pessoa que chora sorrindo, que deixa as lágrimas molharem os lábios e as degusta, aproveitando seu sabor salino, aproveitando. Sou esse tipo de pessoa que finge esquecer o guarda-chuva em casa mas o faz de propósito, que abraça a chuva e deixa o frio vento acariciar a face, e que também sabe piscar para o Sol, recebendo seus raios luminosos e seu calor como um presente, de todo seu coração, de todo o bom grado. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de falar de si, fazendo descaso da auto-suficiência que pode, erroneamente, transbordar essa afirmação e que às vezes se choca com a beleza do sentimento que dedica a si mesma, pois este é despretensioso em sua forma de amar calado. Mas que também muitas vezes sussurra pra si mesma palavras tão cruéis que permeiam seu pobre ser, esse seu pobre ser que é quase morto pelo desgosto de sua parte que não é boa. Eu sou o tipo de pessoa que não é carente de toque, mas de intenção; que sonha em receber um bilhete amassado e rabiscado com uns dizeres bonitos, que venera as rosas e que pára pra prestar atenção à cada uma das folhas das árvores, para que aquilo que soa pequeno também tenha seu momento de brilho, de sorrir. Tipo de. Pessoa que vê, em câmera lenta, a mão do maestro dançar (mesmo quando ela está inquieta), que adoraria tocar harpa, que exige de si mais do que pode dar-se, que ouve Tchaikovsky emocionadíssima, tanto pela beleza da música tanto por saudade de seus muitos anos que rementem à lagos e à cisnes. Pessoa que bebe café forte mesmo sabendo da futura azia, que gostaria de usar um perfume com o mesmo cheiro dos livros, que respeita a feiura da própria caligrafia torta e que suga da palavra "muito" alguma coisa muito especial. De coração mole, de agrado fácil, de loucas incertezas sobre o que talvez pouco importe. Que se agoniza com reflexões sobre a dor de ser e que pula de alegria ao pensar que só ser já basta, mesmo que esse ser seja ser nada. Esse tipo de pessoa que diz bom dia para todos com muito entusiasmo, e que sorri forte para aqueles que não respondem de volta; que às vezes chora ao comer miojo (não por causa do prato, mas pelas suas frustrações pessoais), e depois se pega rindo, porque todo motivo pra tristeza não é grande assim, afinal, não só sou o tipo de pessoa muito feliz, mas também o tipo que tem muitas, muitas razões para tal. Eu, que às vezes corro pra pegar o sinal aberto para pedestres e no meio do caminho mudo de ideia e dou passos lentos para saborear o tempo que é só meu, que noutras acordo, de súbito decido ir ao cinema e o faço satisfeita com minha doce sensação de liberdade... Eu, que provavelmente sou livre da forma mais inviável que existe, que sou livre porque cultivo um colobri dentro de mim...
Não, talvez eu não seja bem esse tipo de. Talvez - mas só talvez - eu apenas seja eu: uma mistura do indefinível de mim mesma com essas vãs reticências que insisto em perdurar...
Não, talvez eu não seja bem esse tipo de. Talvez - mas só talvez - eu apenas seja eu: uma mistura do indefinível de mim mesma com essas vãs reticências que insisto em perdurar...
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